Esta é a segunda parada na cor que pegou emprestado o nome da fruta laranja e que só depois disso tornou-se reconhecida como pigmento autônomo. Quer saber mais sobre a história da cor Laranja? Siga-me os bons 😉
Conforme conta Eva Heller, citada em diversas bibliografias a respeito da simbologia das cores, a fruta laranja teve sua origem na India (e chamava-se nareng). Ao longo dos tempos foi levada à Arábia (passando a se chamar narang) e seguiu para a Europa através das Cruzadas, onde passaram a ser cultivadas pelos franceses, que por sua vez as chamaram de “orange” (pois continha reflexos dourados – o ouro em francês é or), se popularizando na língua inglesa. (Heller, 2013:182).
O fato é que até então o laranja não era, digamos, reconhecido como cor e só “tornou-se” uma com nome próprio depois que os europeus ganharam a referência da fruta para isso. Antes, o Laranja era tratado como um “vermelho amarelado”, uma derivação do vermelho ou do amarelo, dependendo do seu tom.
A tangerina era outra fruta asiática, proveniente da China. Tanto esta quando sua prima laranja eram comuns na cultura asiática e extremamente apreciadas também. Como comentado no texto Amarelo 2/3, as cores quentes, em especial o Amarelo e o Laranja sustentavam os mais nobres significados. A cor Laranja aparecia como cor simbólica do budismo, representando a iluminação e o mais alto grau de perfeição.
O pigmento alaranjado mais usado era o açafrão e a açafroa (uma versão similar do primeiro). Embora caríssimo na Europa e, portanto, fora de cogitação para o tingimento de peças inteiras de roupa, na Índia Oriental, os nobres vestiam-se com abundância nessa cor, desde tons mais claros e amarelados até o Laranja escuro.
Enquanto a cor Laranja era naturalmente apreciada em etnias onde as peles eram mais amareladas (motivo pelo qual pode explicar a preferência), na Europa ela surgia como uma cor ultra exótica e estranha, pois não estavam culturalmente acostumados a enxergá-la como “cor”, sem desvencilhar do Amarelo, como já dito.
Esta estranheza, no entanto, não acontecia nos Países Baixos. Talvez pela ruivisse comum na Holanda (embora não fosse muito bem quista na Europa de um modo geral), pelo plantio de cenoura desde o século 16, o Laranja era uma cor presente, sendo tida como a cor da família real. A Dinastia de Orange esteve no poder até o século 18, embora a cor associada fosse um Amarelo (provavelmente que já continha Vermelho).
Van Gogh fez questão de usá-lo em seu autorretrato na cor Laranja. Na Irlanda, a cor também era comum nos cabelos (não que fosse apreciados também) e é impossível não lembrar da figura Leprechaum, tradicional na cultura irlandesa. Laranja foi também a cor simbólica do protestantismo na Inglaterra e Irlanda.
“O Laranja está em todo canto, precisamos apenas enxerga-lo” Eva Heller.
O laranja é uma cor fácil de ser captada por nós (oferece alta visibilidade), porém nem sempre ela é “processada” como uma cor. Já vimos que o fator cultural é um grande influenciador, mas não é a única resposta.
A percepção que temos das cores é muito simbólica, ou seja, não necessariamente condiz com a realidade. É por isso que praticamente cometemos uma figura de linguagem quando tomamos a parte pelo todo: dizemos que uma árvore é verde quando apenas as folhas ou caules são (e de algumas espécies) ou que o céu é azul quando na verdade ele é incolor e várias luzes incidem na atmosfera terrestre, inclusive na cor laranja (o que dizer de um pôr do sol?). O mesmo acontece com pessoas ruivas quando dizemos que o cabelo delas é vermelho, quando na verdade ele se aproxima muito mais de tons alaranjados.
Fora isso, cada indivíduo pode “processar” as cores de forma diferente, ou seja, o tom de Laranja que eu vejo não necessariamente é o mesmo tom que você enxerga. Desde pequena me perguntava sobre isso e achava curiosíssimo!!
O fato é que cores primárias são predominantes. Na composição do Laranja, por exemplo, podemos colocar mais pigmento Vermelho e tecnicamente nomear o resultado de “Vermelho Alaranjado”; Vermelho Tomate ou Laranja Avermelhado, ao invés de apenas “Laranja”. Da mesma forma, se a predominância for de Amarelo, o resultado pode sequer ser chamado de tangerina ou alaranjado, mas de “Amarelo Gema”, “Açafrão” ou “amarelo avermelhado”. Em culturas onde se presa pelo laranja ele é a palavra central para denominar determinados tons de Laranja.
O sinestésico Laranja
Você já sentiu o perfume de uma laranjeira? Já apreciou uma árvore carregada de flores e frutos? É de uma singularidade sem tamanho que se tornou símbolo de fertilidade, por isso, na China e Índia.
Além do perfume característico das flores, a fruta laranja carrega o seu próprio aroma, que se mistura ao sabor cítrico e adocicado que uma laranja madura pode ter. A cor Laranja, que também denota o ponto certo do colhimento de frutas e legumes, desperta nosso apetite e nos faz salivar!
Ela é uma das cores mais fáceis de associarmos a alimentos naturais, a temperos e preparos agridoces. Laranja, tangerina, pêssego, manga, mamão, seriguela, cenoura, damasco, abóbora, salsicha, açafrão, curry, colorau, salmão, lagosta, camarão, terracota, telha. A maioria se refere à comida! É difícil não pensar na coloração, sem nos deixar levar por outros sentidos.
Como estimulante do apetite que é o Laranja, esta cor é ideal inclusive para exaltar aquela ambientação aconchegante e gostosa de reunir em torno da cozinha para comer e conversar. Sendo o Laranja também a cor da recreação, interatividade e comunicação, muitos usam esta cor estrategicamente em clubes e restaurantes.
Além disso, o Laranja vincula-se a uma aparência saudável. Nem amarelada (abatida ou doente), nem avermelhada demais (queimada, sensível e irritadiça); a pele laranjinha denota mais vigor e saúde. Este aspecto pode, inclusive ser ressaltado quando em contato com tons de azul, pode reparar. Devido ao contraste simultâneo nossa visão força a perceber nuances da cor complementar, no caso o laranja, o que é excelente para destacar o bronze.
E falando nele, a pele bronzeada por si só nos faz percorrer toda uma história ou ideal de que a pessoa tem maior contato com a natureza, o que remete a uma suposta vida mais natural equilibrada (entre o trabalho e o lazer), com alimentação também mais saudável. O efeito rebote também acontece! Em excesso, a pele de bronze alaranjado torna-se artificial.
Com o boom das câmaras de bronzeamento artificial, nos anos 2000, foi possível ver celebridades passando da conta, criando assim, uma conotação meio fake e negativa da pele ultra bronzeada. Seja garantindo seu bronze aqui no Brasil ou nas máquinas e pinturas a jato, o estilista italiano Valentino tem como marca pessoal o tom de pele alaranjado, isso para não citar outros!
Conta pra mim, você usa Laranja facilmente? Sabe se está na sua cartela? Quer fazer uma análise para entender sua relação com essa cor? Mande uma mensagem pra mim!
Andresa M Caparroz