O (RELATIVO) PROTAGONISMO DO AMARELO

Fonte da imagem original

Pigmento primário, luz secundária

Lá vamos nós falar de uma forma um pouco mais técnica, mas prometo que vai ajudar a compreender melhor o Amarelo no círculo cromático e na sua utilização!

O fato é que o Amarelo está tão associado à luz que, em nossa cabeça, a luz acaba sendo vista como amarelada. #soquenao.  O Amarelo é apenas uma das ondas da luz. Lembrando que a luz, que é energia, vibra em ondas eletromagnéticas. Tudo que vibra tem som e cor. A faixa de comprimento do Amarelo corresponde a 570 – 590nm. Em se tratando de cores primárias da luz, o Amarelo é uma cor secundária, resultante da aproximação da luz verde e vermelha. Esse método de composição de cor/luz pode ser inclusive experimentado com o padrão RGB (utilizado em TV e conteúdos digitais).

O Amarelo é a cor mais clara e “leve” do espectro da luz e em se tratando de pigmento ele é o segundo (a primeira cor mais clara é o branco). Em contato com o branco, o Amarelo puro se torna mais luminoso e, embora a combinação não produza alto contraste de profundidade, elas criam um grande impacto à nossa vista pelo brilho e claridade que projetam.

Já diante do preto, o Amarelo torna-se intensificado, quase que ofuscante, gerando contrastes altos. Não à toa, ele faz as vezes do branco, principalmente quando o assunto é contraste. Embora preto e branco seja o máximo do alto contraste, o Amarelo possui grande poder de “leitura” ou visibilidade quando em contato com preto, contanto que este último não esteja de fundo. Tal efeito pode ser percebido nas placas de sinalização de trânsito.

Em se tratando de pigmento, o Amarelo é considerado uma cor básica ou primária e está em todo e qualquer esquema de representação de cores e círculos cromáticos. Sua cor oposta ou complementar é o violeta. Mas, psicologicamente falando, a cor que se opõem ao enérgico, vibrante e positivo Amarelo é o Cinza, “a cor não cor”, que quase não vibra por justamente ser acromática.

O Amarelo compõe o trio das cores mais quentes, junto com o Vermelho e o Laranja. Esse é o acorde do calor, seja vindo do fogo ou do sol.  Além da sensação de elevação da temperatura, estas cores geram a impressão visual de proximidade e geralmente são mais apreciadas por pessoas de personalidade também calorosa, como abordado no livro Psicodinâmica das Cores em Comunicação, (Farina, Perez, Bastos, 2015: 88).

O Amarelo camaleão

Toda energia e vigor em excessos podem causar irritabilidade, desconforto. Ainda assim, o Amarelo é uma cor extremamente camaleoa. Se você não está lembrado do episódio do Verde, nele falamos da sua característica camaleoa no texto  Verde, o caminho do meio. O Amarelo, no entanto, o supera nesse sentido, pois basta um tantinho de Vermelho para ele se tornar alaranjado ou um “nada” de Azul para ele se tornar uma variante do Verde. Com o Preto, temos o Ocre e tons neutros.

Os vínculos negativos do uso do Amarelo podem ser irritação, ansiedade, fome, impulsividade. O brilho excessivo do ouro pode gerar ostentação, orgulho. Trata-se de uma cor que desperta sensações ambíguas, assim como as outras, embora, talvez seja ainda mais, daí a dificuldade do seu uso. Sugere energização, potencialização e estimulação. O excesso de energia gera também distração, fome e impulsividade.

O apreço por cores de acordo com nossa cultura

Dentro da minha pesquisa sobre a simbologia das cores, ouso afirmar que cada uma delas possui sua essência. Esta característica imutável é a sua força motriz. Buscando uma justificativa lógica, acabo me apegando um pouco a qualidade da cor enquanto luz, pois cada uma vibra em uma frequência, cada qual gerando determinadas características e benefícios, cada vez mais estudados e respaldados pela comunidade científica.

A simbologia que vamos dando às cores por associá-las direta e indiretamente a elementos presentes em nossas vidas, sejam estes concretos ou abstratos, faz com que cada cultura as tome de um modo muito próprio e rico. Às vezes estas analogias são universais, como a associação do vermelho ao sangue ou do sol ao Amarelo, mas as condições climáticas de determinada região são determinantes para que cada uma vivencie e a associe de forma positiva ou não.  O verde, por exemplo, era uma muito apreciada nas culturas desérticas, sempre associado ao paraíso e à abundância, enquanto as cores do sol eram a representação da aridez que castigava.

Além disso, estes mesmos simbolismos que as cores adquirem ao longo dos tempos também vão sendo multiplicados, alterados e ressisginificados porque, afinal, nós mudamos. Além de toda a carga cultural, regional e temporal,  há ainda o nosso olhar sobre estas cores e a forma particular com a qual as experienciamos. Aspectos extremamente subjetivos (além do social) permeiam nosso inconsciente e orientam nosso gosto próprio.

Ao instrumentalizarmos as cores seja na decoração, no marketing ou na nossa forma de vestir, é preciso ter em mente que estaremos abordando símbolos e mensagens ao mesmo tempo imutáveis, transitórios e particulares.  Veja em nosso país, o significado que uma camiseta amarela atualmente ganha aponta para um suposto posicionamento político e ideológico. E isso faz com que queiramos ou não usar uma cor apesar de gostar dela.

E o sorriso amarelo?

O Amarelo não se trata de uma cor expressa nem como preferida, nem como a menos apreciada no ocidente. Na Europa, o Amarelo ganhou uma série de ressalvas quanto “cor nobre”. Quando se trata de categorizar o Amarelo como belo ou feio, há uma distinção de tons a ser feita.

O Amarelo dito bonito é aquele puro, vigoroso e ensolarado. Já o feio tem sempre um “Q” de doente, pálido e esverdeado. Também está associado a venenos e ao próprio suco gástrico produzido pela vesícula biliar, desde muito tido como reduto das emoções amargas da vida, como a raiva, rancor, além de inveja e cobiça.

O Amarelo turvo é descrito por Johannes Itten (pintor e docente na primeira fase da escola de artes Bauhaus) como símbolo de falta de clareza, de traição, dúvida e falsidade. Heller relata uma passagem de Itten sobre o Amarelo:  “O Amarelo jamais foi uma cor apreciada para as vestimentas. O açafrão era demasiadamente caro para que se pudesse tingir roupas com ele. E todos os outros corantes Amarelos não produziam uma cor firme e luminosa.” (Heller, 2013:95).

Mas esta associação a sensações desagradáveis também é “justificado” pela medicina. Conforme o livro Psicodinâmica das Cores em Comunicação,  os efeitos do Amarelo em nosso corpo são o aumento da pressão arterial e dos índices de pulsação e respiração (como o vermelho, mas de forma menos estável). Seu excesso favorece indigestões, gastrites e úlceras gástricas, além de produzir enjoo nos passageiros quando o interior do veículo (especialmente avião) é pintado nessa cor. Apesar disso, o Amarelo é considerado também um restaurador dos nervos. Indicado para o uso medicinal para os nervos e inflamações (Farina, Perez, Bastos, 2015: 113).

Antes do advento do corante artificial, as roupas eram coloridas com pigmentos naturais. Em sua maioria os Amarelos eram pouco intensos ou não chegavam a um resultado onde a cor pura ficava expressa, uma vez que os tecidos mais usados eram em tom cru, ao invés de branco como a seda. Então eles ficavam sombreados ou com a aparência encardida. Para que o Amarelo reluzisse era necessária uma superfície lisa e branca, como as ricas sedas.

Se na Europa havia certa falta de apreço, na Ásia este era fortemente saudado! Dependendo de cultura para cultura, certas cores possuem mais ou menos protagonismo. Na China, por exemplo, o Amarelo está ligado à própria ideia de criação.

“Deus criou os homens. Além disso, as condições climáticas também influenciam em nosso gosto pessoal, sem se quer nos darmos conta. Lhes forma através de uma massa no forno. Os primeiros homens a saírem do forno ficaram mal assados – eram pálidos e brancos. Na segunda tentativa, Deus os deixou por demasiado tempo no forno – eles ficaram pretos. Só na terceira tentativa foi que Deus conseguiu criar homens da cor ideal – Amarelo-ouro”.  (Heller, 2013:97).

Chega a ser ingênua, senão racista a história contada. O fato é que, uma cor tão presente na pele asiática, não poderia ser ignorada. Além disso, vai saber se não foi esta característica que inconscientemente os fizeram se apaixonar pelas cores quentes, sempre tratadas com grandeza, simbolizando positivamente as coisas da vida.

O Amarelo era a cor simbólica da majestade imperial. Pela china, vestir Amarelo era coisa séria. Só quem poderia vestir-se com ela era o imperador. E como exaltar os homens estava em tudo o que fosse cultural, ao Amarelo associava-se até a força yang – masculina, como cor mais elevada, em oposição ao preto feminino. Na China, enquanto o Amarelo é masculino, o branco e o preto são cores femininas.

Por lá, o Amarelo é a cor da felicidade, da glória e da sabedoria, além da lealdade e incorruptibilidade. A ele, de uma forma universal, está vinculado o dourado, símbolo da riqueza material.

Na Europa ele foi associado a sensações desagradáveis, impuras e símbolo de traição. Judas era retratado vestindo o Amarelo aguado e impuro. Na Espanha do século 16, esta era a coloração para condenar os “hereges” durante a Inquisição.

“A rejeição europeia ao Amarelo liga-se ainda, frequentemente, à rejeição aos estrangeiros. A sempre evocada ameaça da Ásia à Europa gerou o Slogan político “o perigo Amarelo”. (Heller, 2013:96).

Ainda não está satisfeito? Continue acompanhando. Vamos falar como usar o Amarelo a seu favor no próximo post!

Andresa

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