Imagem: Artista plástico Valerio Loi
Nem todo mundo gosta da cor Rosa, exatamente por vê-la como muito doce e otimista. E, na maioria das vezes, feminino e infantil. Pode ser essa a explicação, caso você não encontre muito desse tom no seu guarda-roupas, mesmo que ele esteja na sua cartela de cores (quer saber qual é a sua? Conheça o serviço de coloração pessoal aqui! ). O Rosa está associado à delicadeza, cortesia, sensibilidade, aconchego, ternura, doçura, amabilidade e sensibilidade.
Ele carrega psicologicamente consigo as mais positivas características do Branco e do Vermelho, criando uma simbologia de alta frequência vibratória, e muito mais branda e alegre que o intenso Vermelho, muito mais impactante. Essa é a mais pura “energia de amor” e, também, a do otimismo. Tanto que dizemos que ver a vida com “lentes Cor de Rosa” é conseguir apreciar o lado bom da vida e, em último grau, fantasiar sobre ela. Esta associação é antiga. Eva Heller nos conta que as pinturas da Idade Média retratavam o lar dos santos com casinhas Cor de Rosa, que simbolizavam os locais aonde os milagres aconteciam (2013: 218).
Ao Rosa também está associado o universo doce da confeitaria e dos bombons, com suas embalagens romanticamente rosadas, além de fragrâncias delicadas das rosas. A doçura, aliás, é amplamente associada ao comportamento sensível e romântico dos apaixonados, mais particularmente ao público feminino, quase que de forma estereotipada. E é aqui que vemos o Rosa, uma cor tão repleta de bons significados, ser usada pela sociedade de modo limitante e até preconceituoso.
Coisa de “mulherzinha”
O Rosa é uma das mais elencadas ao universo feminino, principalmente ao público infantil. Nós já sabemos como a invenção do “Rosa para as meninas” se deu. Se você perdeu, acompanhe aqui [Azul 2]. Mas por que o que é tipicamente feminino é ridicularizado?
A partir do momento em que o Rosa foi associado ao que era “feminino”, vemos ele ser usado de forma preocupante. Durante a Segunda Guerra Mundial, a cor foi usada já de forma discriminatória, contra os homossexuais. Nos campos de concentração, os presos que não se enquadravam nos ideais de masculinidade dos soldados eram identificados por um triângulo Rosa costurados em suas fardas. Uma lembrança nada doce do Rosa, certo?
Já ouviu a expressão “coisa de mulherzinha”? Agora pense na cor que ela teria? Talvez este seja o único aspecto negativo que a sociedade deu ao Rosa, que acabou por desencadear o preconceito para com mulheres e gays. Se olharmos para a nossa própria experiência de vida, desde a infância, entendamos um certo ranço criado com o Rosa. Conheço mães que se recusam a usar o Rosa em suas bebês, seja em roupas ou na decoração do quarto, exatamente para fugir ao estereótipo de fraqueza que ficou atrelado a ele.
Conforme falado no texto sobre o Azul , o Rosa foi mercadologicamente categorizado como cor feminina por volta dos anos 1930, e se tornou mundialmente cristalizado assim anos 70, com o boom do plástico e do nylon, marcando o território nos brinquedos infantis.
Quem teve sua infância nos anos 1990 foi “vítima” dos brinquedos Pink ou Cor de Rosa para as meninas, além das roupas e calçados nessa mesma cartela. Os acessórios da Barbie, assim como a sua casa, tudo, eram todos Rosa, certo? O Rosa tornou-se símbolo do rotulado universo feminino, desde as brincadeiras com bonecas até na forma de vestir e portar-se delicadamente. Mas é claro que fomos além disso 😉
E o que aconteceu comigo, acho que foi o mesmo com a maioria das meninas que cresceram percebendo o teor pejorativo do termo “coisa de mulherzinha” (que forçava uma imagem falsamente frágil): o divórcio com o Rosa e a aderência à roupa preta como sinal de rebeldia.
Rosa infantil e Rosa adulto
Até hoje, os tons “bebê” de Azul e Rosa se fazem presente na vida dos pequenos. Em seguida, o universo multicolorido dos brinquedos e das roupas compõe o cenário característico da infância. Mas, na adolescência, período de grande rebuliço interno, os jovens começam a se vestir de preto, por quererem se desvincular da imagem de criança (e da menina doce) e ao mesmo tempo, se identificarem uns com os outros. Esse é o momento literal de “ovelha negra da família”!!
Embora a cor complementar do Rosa seja o Verde, a cor considerada psicologicamente oposta a ele é o Preto! Enquanto os rosados transmitem por essência leveza, aconchego e amorosidade, o Preto é robusto, pesado, ausente e, muitas vezes, relacionado a sentimentos obscuros.
As mulheres e o mundo, de uma maneira geral, têm feito as pazes com o Rosa por meio de versões um pouco mais heterogêneas, ao invés do quase alvo rosa bebê. Tons de Rosa antigo e queimado, o nude rosado e o Rosa Flamingo (mais amarelado), entre outros, surgiram de modo autônomo, como versões mais “adultas”, neutras e até sensuais, pois se conectam a ideia de pele à mostra. Ainda que seja uma representação limitada, que se refere a alguns tons da pele branca, estes rosados ganharam alusão à figura humana nua.
O bem-estar gerado pelo Rosa pode ser percebido pela grande aderência que ele teve na decoração da última década. O Rosa Millennial, por exemplo, esteve presente em paredes, objetos de decoração, e também na tintura de cabelo e roupas, muitas roupas, femininas and masculinas! Em 2016, o número de peças masculinas nesta cor cresceu 40% nas fast fashions internacionais e tal movimento também se concretizou em nosso país.
O motivo? O Rosa Millennial, uma cor neutra, foi usada pelas marcas para representar as necessidades da Geração Z (como são chamados os nascidos entre os anos 1990 e 2000) – fluidez da sexualidade, o reconhecimento da pluralidade de gêneros, dentre outros temas necessários.
Não foi um movimento fácil e nem rápido, mas o Rosa segue perdendo, aos poucos, o ranço adquirido por séculos e começa a fazer parte, novamente, do nosso repertório social e indumentário. Conta pra mim, como é por aí a relação com o Rosa?
Andresa M Caparroz