AZUL FEMININO X AZUL MASCULINO

Imagem original: Ashley Mackenzie

 Você sabia que nem sempre o Azul foi considerado “cor de menino”? A prática de usar as cores para diferenciar gêneros nasceu, em termos históricos, há bem pouco tempo atrás. Na história da indumentária a diferenciação que interessava aos poderosos era a de classes, não a de gênero. Até 1900, as crianças não tinham roupas específicas para a sua idade.

Até os cinco anos, elas usavam um vestido branco com acessórios vermelhos, (sem distinção) e depois passavam a vestir “réplicas” da vestimenta adulta. E antes, ao tempo da Rainha Vitoria era possível ver meninos retratados nas pinturas vestindo rosa, sem que isso causasse questionamento quanto ao gênero ou a sexualidade.

A ideia de fazer a distinção dos gêneros através da cor é algo relativamente recente, e teve início por volta de 1920. Conforme relata Eva Heller no livro “A Psicologia das Cores”, a vestimenta das crianças, até então, não seguia a convenção do “rosa para as meninas e azul para os meninos”. Aliás, esta é contraditória à simbologia cromática expressa na Antiguidade.

 

As sensações do azul

Embora hoje seja (ainda) comum relacionarmos azul ao masculino, na Antiguidade ele era símbolo do “princípio feminino” – passivo, sereno e delicado, de polaridade negativa, relacionado também ao elemento água, em oposição ao vermelho –  representação do masculino, forte, ativo  e agressivo (polaridade positiva e elemento fogo).

Até hoje o vermelho é considerado em certas culturas (como na Chinesa) símbolo da masculinidade. As polaridades negativo e positivo, relacionadas ao feminino e masculino, representam a característica da energia (Yin, Yang) e não o gênero em si. O ser humano apresenta ambas as qualidades dentro de si, uma mais evidente que a outra, e nem sempre àquela correspondente ao seu sexo, sexualidade e identidade de gênero.

Quando o azul passou a ser cor de menino?

Foi uma questão de mercado. Por volta de 1920 tornou-se possível a fabricação de cores resistentes à fervura, e aí, viabilizando o uso de roupas mais coloridas. Ao mesmo tempo, depois da Primeira Guerra Mundial, a cor vermelha, signo do masculino, foi retirada estrategicamente dos uniformes militares (que passaram a ser em tons neutros e “camufláveis”) e, consequentemente das roupas do dia a dia. E inclua-se aí o vermelho e, claro, todas as suas tonalidades, incluindo o rosa.

As crianças, com a possibilidade das cores, passaram a usar roupa de marinheiro – quem aí nunca viu fotinhos dos nossos bisavós sempre com essas roupinhas? Eram tingidas com o índigo artificial, a nova tinta, a melhor de todas. “Dos trajes de marinheiro se derivou, com uma lógica quase que forçosa, o fato de que o azul-claro, ou o azul em geral, se convertesse em cor dos meninos. Como cor tradicionalmente contrária, o rosa passou a ser então a cor das meninas.” (Eva Heller).

A autora ainda conta que na década de 1970 “o rosa feminino” se impôs internacionalmente, com o avanço da fabricação do nylon. De repente a cor passou estar em tudo o que remetesse ao universo feminino, desde a idade infantil. Embora na década seguinte essa febre tivesse sido considerada demodé, o real motivo era a falta de praticidade em escolher o enxoval do bebê, sem saber o sexo. Mas como podemos ver, até hoje essa convenção permeia nosso imaginário e é levada a sério pelos mais conservadores.

 

Usar o azul com toda sua força

Vivemos tempos libertários, e a moda é o grande painel das mudanças que acontecem no âmbito social. Hoje, a essência da simbologia pacífica do azul pode e deve ser usada com o propósito de ativar em nós o poder de comunicar algo, seja de modo subliminar ou mais direto; de criar contrapontos e até contrastes. Conhecer as cores e seus possíveis significados torna-se, então, conhecimento aplicado em nosso benefício! E essa é a função primordial do trabalho de construção de estilo.

No próximo post, vou falar das várias tonalidades de Azul e suas combinações. Não perca!

Andresa Caparroz

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